#Oscarnanaval2024: POBRES CRIATURAS, FICÇÃO AMERICANA e VIDAS PASSADAS

Acharam mesmo que a gente ia deixar passar em branco? Depois de tantos anos? O Carnaval passou, mas é o Rascunhos que tá no comando macetando mais uma temporada da Maratona Oscarnaval! 

Existem coisas na vida que já são certas: que nascemos, que vamos morrer e que vamos ter uma cobertura do Oscar aqui no Rascunhos da Meia-Noite! Ano vai e ano vem e aqui estamos pra comentar sobre vários filmes que tem se destacado na temporada de premiações. Esse ano, diferente do nosso tradicional "uma crítica por dia", decidimos trazer compilados: cinco postagens comentando todos os dez filmes indicados à melhor filme. A correria diária deixou o tempo curto pra vocês que leem e para nós que produzimos. Então pega a sua pipoca, assista um filminho e vem comentar cada um deles com a gente!

Vale lembrar que a ordem dos filmes que vamos comentar é completamente aleatória. Alguns textos escritos pela Júlia (hoje, temos dois deles!) e alguns por mim. Como sempre, vamos deixar pra comentar os nossos mais e menos favoritos na última postagem de apostas no próprio domingo, dia dez, perto da hora da premiação!

No nosso primeiro dia de maratona, vamos falar sobre três filmes extremamente diferentes um do outro e que geram impacto de formas muito diferentes. Então, vem com a gente conhecer o desconhecido em Pobres Criaturas; quem sabe, lutar contra o mercado literário em Ficção Americana; e sem deixar de viver encontros e desencontros com Vidas Passadas. Bora rascunhar mais uma Maratona Oscarnaval?!

POBRES CRIATURAS

Tenho que dar um soco naquele bebê.

Em um misto de fantasia científica e surrealismo, Pobres Criaturas nos joga em um universo em que a jovem Bella Baxter (Emma Stone) descobre o mundo fora da casa em que passou trancada durante sua vida toda. Contra a vontade de seu guardião, que coincidentemente é um cientista, Godwin Baxter (Willem Dafoe), Bella viaja por aí na companhia de Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) e aprende sozinha - e com a ajuda de algumas pessoas - como a vida é. Enquanto isso, nós acompanhamos como a ingenuidade e pureza de Bella se choca com a crueldade do mundo.


Esse foi um dos poucos filmes que tive a oportunidade de assistir no cinema e, contrariando todo o resto da população mundial, não me agradou tanto. Tecnicamente, Pobres Criaturas é o filme mais lindo que já vi na vida. A cada cenário eu ficava encantada e chocada com a riqueza de detalhes e a ambientação. O navio é simplesmente divino. Porém, por conta do plot twist (tem plot twist!) que nos é revelado na primeira parte do filme, não consegui aproveitar tanto a história. Longe de mim querer problematizar apenas um ou dois personagens, mas passei por longos momentos de desconforto. Contudo, não estou aqui para negar o discurso que o longa traz. Com Bella, o espectador observa as desigualdades de um outro ângulo, o que faz com que nós torçamos pela personagem durante o filme todo. É uma viagem sem igual que só assistindo para entender. Existem, porém, histórias menores que, particularmente, eu não sentiria falta se não estivessem presentes. Fora isso, foi muito bom ver Emma Stone nas grandes telas novamente e espero que ganhem todos os prêmios de design de produção e figurino. Desculpe, Barbie.

(Texto de Júlia Ramos)


FICÇÃO AMERICANA

Fuck.
Sendo provavelmente o filme menos comentado da temporada e chegou no catálogo do Prime Video sem grandes divulgações, Ficção Americana acompanha Thelonious Ellison, ou "Monk" (Jeffrey Wright), um provocativo professor universitário de Literatura e autor de livros de temática mais erudita. Mas encontra obstáculos na carreira devido à demanda do mercado editorial, que exige por livros de "conteúdo mais negro", além de ter que lidar com diversos dilemas envolvendo a sua família e relações amorosas. O longa se tornou um dos que mais gostei de assistir na temporada. Não apenas pela sua temática, mas o seu tom de sátira e metalinguagem são capazes de fazer a gente levantar de choque e até arrancar algumas risadas desconfortáveis.

Fica claro como o diretor Cord Jefferson bebe muito da fonte de Spike Lee na sua obra - tanto na estrutura narrativa quanto pela temática - e nos entrega algo único dentre os filmes da temporada. Talvez, a gente fique tão preso aos dramas de Monk que deixamos de lado outros pontos relevantes, como a de seu irmão Cliff (Sterling K. Brown), de sua mãe Agnes (Leslie Uggams), mas ainda faz sentido pela escolha narrativa de fazer com que todos os coadjuvantes orbitem para o desenvolvimento do protagonista. Afinal, negros têm mesmo histórias pesadas e muitas vezes trágicas, mas será que é o máximo que podemos oferecer para um mundo branco? Esse é um dos vários questionamentos que Ficção Americana esfrega na nossa cara e com um final muito impactante. Pode passar despercebido no olhar dos votantes, mas não deixe de dar importância pra tudo o que esse filme tem a dizer. 
(Texto de Felipe Fritz)

VIDAS PASSADAS

In-Yun. Significa providência ou destino.

Neste romântico drama (ou dramático romance?) estadunidense, nós testemunhamos o encontro de dois amigos de infância após anos sem se ver. Nora (Greta Lee) se mudou para os EUA quando era criança ainda, deixando a Coreia do Sul e seu amigo Hae Sung (Teo Yoo) para trás. Eles se reconectam na adolescência, revivendo e fortalecendo o laço que haviam construído na infância, mas, por questões da vida adulta, só se veem novamente quando estão com seus 30 anos. Com uma sinopse e um trailer que passa uma ideia de romance, de "friends to lovers", de segunda chance, Vidas Passadas surpreende quando traz um romance de filme para a realidade. 


Esse era um dos longas da temporada que mais estava ansiosa para ver e não me desapontou. Gosto de dizer que é uma história feliz, mas uma em que você termina chorando e com o coração apertadinho. O primeiro filme dirigido por Celine Song mostra como a distância e o tempo podem afastar as pessoas mas, ao mesmo tempo, não são capazes de destruir aquele laço que uma vez existiu. Em muitos momentos do filme critiquei a postura de Nora ou de Hae Sung, mas não consigo enxergá-los como errados ou culpados. Há coisas que nem a gente consegue explicar, só a vida mostrar. Além do toque de romance, Vidas Passadas também mostra a diferença de cultura dos dois países, questionamentos que rodeiam a vida de imigrantes e inseguranças e confiança dentro de um relacionamento. Para quem está sofrendo de amor, talvez não seja a melhor escolha; mas para aqueles que não têm medo da vida real, podem confiar. De qualquer forma, separem os lencinhos.

(Texto de Júlia Ramos)


"Pobres Criaturas", "Ficção Americana" e "Vidas Passadas" no Oscar 2024

As desventuras de Bella Baxter foram um dos maiores destaques da temporada, rendendo para Pobres Criaturas onze indicações: melhor filme, melhor direção para Yorgos Lanthimos, melhor atriz para Emma Stone, melhor ator coadjuvante para Mark Ruffalo, melhor roteiro adaptado, melhor trilha sonora original, melhor design de produção, melhor fotografia, melhor maquiagem e cabelo, melhor figurino e melhor montagem. Ufa! Vimos Emma Stone tendo certo destaque em outras premiações, mas o páreo em sua categoria esse ano anda bem apertado. Fora essa, é um dos nossos favoritos em categorias técnicas, como design de produção e maquiagem e cabelo.

Muito diferente de Ficção Americana, que está bem tímido na corrida, mesmo estando com cinco indicações: melhor filme, melhor ator para Jeffrey Wright, melhor ator coadjuvante para Sterling K. Brown, melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora original. Nós amamos Sterling K. Brown desde This Is Us, mas esse ainda não é o seu maior destaque no cinema  (e que chegue logo!). O maior destaque do filme é, com certeza, o roteiro. Fora isso, infelizmente não é um dos favoritos a levar um prêmio.

Com menos indicações ainda, porém muito bem comentado na temporada, Vidas Passadas tem louváveis duas indicações: melhor filme e melhor roteiro original. Esse filme é um dos nossos queridinhos aqui do blog e um dos que mais nos tocou pessoalmente, então vamos, até o fim, sonhar com alguma vitória pelo menos por seu roteiro fenomenal.

That's a wrap, folks... and the Oscar goes to...

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