#Oscarnaval2024: ZONA DE INTERESSE e ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES

 Acharam mesmo que a gente ia deixar passar em branco? Depois de tantos anos? O Carnaval passou, mas é o Rascunhos que tá no comando macetando mais uma temporada da Maratona Oscarnaval! 


Olha só quem voltou para mais uma postagem! Hoje vamos entrar em tópicos muito sérios. O que mais gostamos em épocas de premiações - e em cinema, numa forma geral -, é essa pluralidade nas histórias e como elas fazem a gente enxergar o mundo afora. Na postagem de ontem, estávamos aqui comentando de filmes que falavam sobre nossas guerras internas frente ao mundo lá fora; hoje, vamos falar de guerras históricas e seus impactos.

Dois filmes muito diferentes entre eles. Um criado por um diretor nada conhecido e com poucos trabalhos na carreira e outro por um diretor renomado na indústria e uma das maiores referências do audiovisual. Mas ambos os filmes falando sobre assuntos muito difíceis de serem discutidos. Vamos falar hoje sobre Zona de Interesse e Assassinos da Lua das Flores.

ZONA DE INTERESSE

Sua maior força é transformar a vida em prática.
Sem uma grande história em um formato tradicional, acompanhamos no longa, basicamente, o cotidiano de uma família alemã, que possui certa influência social, vivendo tranquilamente em uma casa ao lado de Aushwitz, um dos maiores campos de concentração na Polônia. Acompanhamos, principalmente, o cotidiano do casal Rudolf Höss (Christian Friedel) e Hedwig (Sandra Hüller), o envolvimento de Rudolf com o nazismo e principalmente com esse campo de concentração.

Lembram ano passado quando falamos sobre Nada de Novo no Front? Falamos muito sobre como o olhar de uma guerra é ainda mais doloroso quando está no ponto de vista daqueles que mais sofreram. E, de fato, muitos sofrem em uma guerra. Mas não discutimos muito sobre aqueles que viviam em completa paz no meio de tanta tragédia, em uma realidade onde os gritos agonizantes e sofredores são tão corriqueiros quanto o canto dos pássaros, pois aquilo não afeta em nada aquela bolha. 

Não vou mentir,  esse filme é extremamente parado. Como disse, não temos aqui uma história em um formato tradicional de "início, meio e fim". Estamos apenas acompanhando um recorte do cotidiano desta família da forma mais apática possível - até porque, é assim que eles reagem ao ambiente que eles estão inseridos: completamente apáticos. E no meio desse cenário extremamente cotidiano, nós, enquanto público, somos levados à momentos de enorme agonia e tensão apenas em estar ali. Mesmo que o "estar ali", para essa família, seja o normal e até o certo. Esse filme conseguiu me impactar fortemente, me causando agonia e gastura da forma mais brutal possível sem que tenha ao menos uma cena de violência gráfica.
(Texto de Felipe Fritz)

ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES

Absolute cinema.
O cinema de verdade e tradicionalíssimo... no streaming? Martin Scorsese não sai de casa se não for para nos preencher com uma longa história de extrema qualidade e, muitas vezes, pesada. Como nossa bolha cinéfila já se acostumou a dizer, o Scorsese É o cinema. Mas, esse ano, ele nos entrega um filme que fez uma pequena jornada nos cinemas e, pouco tempo depois, chegou no catálogo do streaming da AppleTV+. Então muitos, assim como eu, puderam aproveitar o longa de mais de três horas de duração no conforto de casa, trocando as telonas pelas telinhas.

Com um título tão grande quanto o filme em si, Assassinos da Lua das Flores fala sobre uma série de mortes que ocorriam no início dos anos 1920. O que essas mortes tinham em comum? Todos os mortos eram membros da nação indígena Osage. Uma pessoa era envenenada ali, outra ficava doente aqui, outra tirava a própria vida acolá... mas a real é que tudo sempre fez parte de um enorme esquema de embranquecimento daquela região e a dizimação dos povos indígenas, algo que bem sabemos que aconteceu tanto nos Estados Unidos quanto aqui no Brasil. Temos, então, a forte presença de Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio), que está dividido entre atender as vontades de seu tio William Hale (Robert De Niro), envolvido nos assassinatos, e seu amor conturbado por Mollie (Lily Gladstone).

Sentiu um pouco a energia de investigação criminal? É isso e muito mais. Porque Scorsese leva para esse cenário dos Estados Unidos dos anos 1920 toda a sua experiência trabalhando em filmes de máfia e psiquê humana. E tudo fica ainda mais pesado quando você começa a pesquisar como foi tudo ainda pior na vida real. Muito interessante ver como o diretor, com a idade que tem, ainda traz tanta energia pra desenvolver uma história tão importante e que precisamos muito discutir mais sobre o espaço - e a falta dele - para a sociedade indígena. Afinal, a terra é deles. Sempre deveria ser deles. Mas não nos importamos. Tudo isso acontece e amanhã já esquecemos. Nós simplesmente não nos importamos.
(Texto de Felipe Fritz) 

"Zona de Interesse" e "Assassinos da Lua das Flores" no Oscar:

Muito desses dois filmes me geraram muita gastura pela temática, mas arrancou aplausos dos votantes da Academia! Zona de Interesse corre com suas cinco indicações: melhor filme, melhor direção para Jonathan Glazer, melhor roteiro adaptado, melhor som e melhor filme internacional. Fico feliz de ver a direção desse filme aclamada, porque tem muito desse filme que poderia ser explosivo e foi uma escolha se atentar aos detalhes e sutilezas do que ocorre, e isso é muito do trabalho do diretor. Não vi muitos da categoria, mas esse já se tornou o meu favorito dos indicados a filme internacional. Como podem perceber, nenhuma atuação nesse filme foi destaque, pois muito do brilhantismo do roteiro e fotografia está em explorar aquele microuniverso e dar pouco espaço para os personagens em si. Mas ainda teremos uma atriz desse filme sendo muito reconhecida em um filme que ainda vamos comentar.

De um lado, um diretor em ascensão. Do outro, o diretor veterano de Assassinos da Lua das Flores recebeu o dobro das indicações: melhor filme, melhor direção para Martin Scorsese, melhor atriz para Lily Gladstone, melhor ator coadjuvante para Robert De Niro, melhor canção original com "Wahzhazhe (a Song for My People)", melhor fotografia, melhor figurino, melhor design de produção, melhor montagem e melhor trilha sonora original. E é por isso que estamos falando do "pai do cinema", um filme inteiro que passa a sensação de que foi pensado nos mínimos detalhes. Mas gostaria, principalmente, de destacar a atuação de Lily Gladstone que, como já falei em outras críticas, me encanta muito quando um ator se destaca pela atuação mais sutil e ela faz exatamente isso e mais, tendo diversas cenas em que ela brilha sem ser necessariamente estar em foco. Disputa acirrada, heim, Emma Stone!

That's a wrap, folks... and the Oscar goes to...

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